“Sol e Tormenta” é o segundo volume da trilogia Grisha que
chegou ao Brasil ano passado e conseguiu me descabelar inteira . Todos os
eventos que se passam neste livro estão intrinsecamente ligados ao livro um, “Sombra
e Ossos”, portanto, talvez apareçam alguns detalhes triviais – considerados por
muito de vocês como spoilers. De qualquer forma, quem não ainda não conhece a trilogia, tem resenha do livro um aqui no blog.
Depois de toda a confusão, mentiras e vingança no final de “Sombra
e Ossos”, o livro dois começa com Alina e Maly fugitivos em outra cidade para além
do Mar Real. Desde que Alina conseguiu controlar o poder do amplificador de
Marozova, deixando Darkling e seus grishas na Dobra das Sombras, ela tenta
levar uma vida normal. Mas para aparentar uma normalidade, ela precisa esconder
seus dons e isso a enfraquece. Alina quer acreditar que conseguirá fugir do
Darkling, mas sente que é impossível se desvencilhar do elo que os une.
“’Somos parecidos’, disse ele, ‘como ninguém mais é, como
ninguém mais será’.
A verdade daquilo ecoou dentro de mim. Os similares se atraem.”
A Alina que conhecemos em “Sombra e Ossos” está mudada. Ser
a Conjuradora do Sol exige muito dela e, claro, atrai muitos olhares cobiçosos
para seu poder. Quando Darkling consegue alcançá-la (porque ele é badass e pode
tudo, bj), descobrimos que ele foi atingido de uma forma assustadora pela Dobra.
Nichevo’ya, monstros de sombras altamente destrutivos,
estão sob seu poder e Alina não sabe lidar com essa realidade. A pequena
ciência é usada por grishas que conseguem manipular matéria, mas o poder de
Darkling ultrapassa qualquer tipo poder conhecido. É feitiçaria. É maldição.
Fica claro que os planos de Darkling para Alina ainda não
acabaram. O amplificador de Marovoza acaba se mostrando apenas um elemento de
um conjunto que, se combinados, pode se transformar em uma fonte de poder
insuperável. Junto com a tripulação de Sturmhond, um corsário cheio de
mistérios, Alina alcançará mais um elemento para o amplificador, porém, a que
preço?
Depois de uma série de revira-voltas, Alina se vê novamente em Os Altas, a
cidade real de Ravka, tentando dar um basta no poderio do Darkling com a ajuda
de Nikolai, um príncipe com qualidades (e defeitos)... interessantes e que almeja
pelo trono.
Paralelo a esses eventos, há o fato que Alina é considerada uma santa por uma
multidão de peregrinos que a seguem. Muito engenhoso, querida autora. Muito
engenhoso.
Obviamente que a política falará muito alto, mas a fé que move o povo é de
arrepiar verdadeiramente. Alina não sabe lidar com nada disso com a placidez
que o Darkling lidava, porém a necessidade de ela aprender a fazer isso o mais
rápido possível é imprescindível.
Esse livro é interessante por vários motivos. No começo acontece muita
coisa de uma vez só, porém quando Alina chega em Os Altas, a autora parece
mudar o foco da aventura para a estratégia. Entendam, Alina se vê no meio de
uma competição política na monarquia em um tempo de guerra. É inteligente como
Leith Bardugo insere o leitor de forma sutil nos assuntos internos do primeiro
e segundo exercito. Estávamos fugindo numa maquina voadora e de repente somos
enredados por esses conflitos. O livro fica até em um ritmo mais lento, porém
achei necessário para o leitor entender a complexidade política. Alina, que era
apenas uma cartógrafa há menos de 1 ano, agora é uma das grishas mais poderosas
que se tem noticiais e o preço a pagar pode ser alto.
Repito: a autora foi extremamente inteligente ao dar essa
amplitude dos fatos para o leitor; os conflitos políticos, a manipulação da fé
do povo e a dificuldade de lidar com uma monarquia incompetente são elementos
tão importantes como a guerra com o Darkling e seus Nichevo’ya.
Se a metade do livro é lentamente estratégico, Leigh Bardugo dá um giro em 180°
na sua conclusão. Sério, terminei o
livro sem ar!
“Sol e Tormenta” é um ótimo intermediário para a conclusão
desse universo. O que acho realmente incrível nessa trilogia é que o bem e o
mal não andam separados. Ao contrário, eles se confundem em verdades e equívocos
intrínsecos. As razões para a guerra, se analisadas friamente, podem ser justas
de ambos os lados, porém não se enganem: o poder é a maior justificativa para
alcançar esse domínio.
“’O medo é um aliado poderoso’, ele disse. ‘E leal’."
Mapa do universo de Leigh Bardugo no interior do livro. Adoro mapas! |
Os personagens continuam muito bem trabalhados. Nikolai se mostrou um potencial concorrente para Darkling em meu coração, então ainda não consigo entender a obsessão de Alina por Maly, mas ok. A relação dos dois fica até um pouco piegas em algumas partes, mas nada que me incomodasse ao ponto de largar o livro. Também somos apresentados a Tamar e Tolya, dois grishas rebeldes que nunca fizeram parte do segundo exercito, porém que sabem se defender como ninguém. Fora alguns personagens já conhecidos como David, Zoya e Genya, que nos surpreenderão de formas confusas nesse livro. Alguns nomes e termos apontam que a forte inspiração russa na história também continua presente.
Quero abraçar para sempre a Editora Gutenberg pelo trabalho
na tradução brasileira. Os livros são visualmente lindos (como se a história já
não fosse fabulosa). A capa é maravilhosa (na minha humilde opinião), o interior do livro super é bonito, a diagramação é ótima, as páginas são amareladas e grossas, enfim... é um ótimo
trabalho.
Eu, como leitora, agradeço.