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01/04/2014

O Amor nos Tempos do Cólera (Gabriel García Márquez)

"Florentino Ariza não deixara de pensar nela um único estante desde que Fermina Daza o rechaçou sem apelação depois de uns amores longos e contrariados, e haviam transcorrido a partir de então cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias."
"O amor nos tempos do cólera" é um livro grandioso. Saindo de mim, pode até soar exagerado mas... não. 
O autor, Gabriel García Márquez, ou Gabo para os íntimos (eu), foi vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982 e isso não foi aleatório, amigos. 
O livro em questão foi lançado em 1985 e conhecemos a história de amor e solidão de Florentino Ariza pela singular Fermina Daza; um amor obstinado que espera mais de meio século para se tornar possível.
Um amor de cartas, corações partidos, lágrimas e serenatas que despertou em mim algo indescritível. 
Mais que uma história de amor, o livro narra as histórias dos amores que surgiram por causa de um amor infeliz; alguns fatos tão fugazes, outros tão intempestivos... essa linha atemporal que o autor nos joga mexe com os sentidos e, sobretudo, com os sentimentos.

A narrativa é em terceira pessoa e várias perspectivas nos são apresentadas, o que é interessante pois conhecemos os personagens intimamente e nos deparamos com os ~erros~ das perspectivas de outros personagens. 
O melhor exemplo é Fermina Daza. Ela é idealizada por Florentino Ariza; sua "deusa coroada" sem erros, nem mácula. Porém, ao leitor é apresentado uma Fermina humana, palpável. 
A passagem do tempo do livro nos inspira muito também. A maturidade faz bem à Florentino Ariza. Sua percepção de mundo com relação aos amores amplia os horizontes e o deixa mais compreensível e tolerável. 

"O coração tem mais quartos que uma pensão de putas...", de fato, Florentino. De fato.

Gabriel García Márquez é conhecido como o percursor do Realismo Fantástico. Ele inclui elementos de lendas e os torna possíveis em seus histórias. Em "O amor nos tempos do cólera" o imaginário dos personagens é cheio de superstição, mas claro que também há os que sempre tem uma resposta racional para os questionamentos. Na verdade, temos os dois extremos bem representados no livro.  
É fabuloso como os personagens, e seus sentimentos, são reais. Florentino Ariza inicia um tolo passional. Ele se apaixonou por Fermina Daza desde a primeira vez que a viu, e a partir dessa primeira troca de olhares sua vida seria vivida em função dela.
Fermina Daza também se deixa encantar pelos arrombos das paixões juvenis, mas ao contrário de Florentino Ariza, sua ilusão passou.  


"... ao contrário daquela vez não sentiu agora a comoção do amor e sim o abismo do desencanto. Num instante teve a revelação completa da magnitude do próprio engano, e perguntou a si mesma, aterrada, como tinha podido incubar durante tanto tempo e com tanta ferocidade semelhante quimera no coração."


Fermina Daza segue em frente. Casa com Juvenal Urbino e vive os altos e baixos do casamento. Enquanto Florentino Ariza vira o comedor oficial da cidade; um comedor muito discreto, porém. 
Dentre personagens tão diferentes vemos fragmentos de pessoas muito reais. 
Sempre digo que eventualmente me dou licença poética para amar personagens que eu jamais me relacionaria na vida real. E Florentino Ariza se enquadra, com certeza. Inicialmente, seu romantismo exacerbado é... irritante? Bem, claro que depende do ponto de vista do leitor e sou bem Fermina Daza nesse aspecto. (RÁ!)
Fragilidade, fúria, sinceridade, frieza... a percepção honesta dos personagens está aberta na narrativa,  mas a humanidade escancarada de Fermina Daza em particular me encanta. Eu faria tudo que ela fez.


Inclusive isso

Sobre o desespero amoroso de Florentino Ariza: pode parecer meio doentio (ok, é completamente doentio), mas por que é tão bonito e aceitável? O universo que Gabriel García Márquez criou inspira aceitação. 
Não pensem que a história é água com açúcar ou coisa parecida. A prosa de Gabo é apaixonante sim, mas também (deliciosamente) dolorosa e com forte cunho realista. O autor nos presenteia uma história crua sobre personagens que sentem demais. É incrível a distância que o narrador mantém de seus relatos e é incrível a maneira que ele expõem o amor e a dor de maneiras tão ARGH!

"Mas o exame revelou que não tinha febre, nem dor em nenhuma parte, e a única coisa que sentia de concreto era uma necessidade urgente de morrer. Bastou ao médico um interrogatório insidioso, primeiro a ele e depois à mãe para comprovar uma vez mais que os sintomas de amor são os mesmos do cólera."
"O amor nos tempos do cólera" tem um enredo fantástico (adjetivo) e a prosa poética de Gabo acrescenta um ar de fascinação. É meio difícil de explicar a sensação mas, acreditem, é maravilhosa. 

Este foi o primeiro livro que li do autor e fiquei em êxtase e... juro, ainda não passou.

Adendo: Quero que vocês tenham em mente que tudo que eu escrever aqui não será o suficiente para expor dignamente este livro. Então, desde já, desculpem. 





2 comentários:

  1. Fermina, Fermina
    É daí que saiu esse nome então? Espertinhaaaaa.
    As pessoas falam tanto e ele tem essa fama de eterno tão grande que me dá até vergonha admitir que nunca li nada dele *chicoteiaaaaaa* Aliás, eu sou vergonha em matéria de leitura latina de qualquer forma. *chicoteia 2*

    Mas eu tenho medo desse livro e desse protagonista (ali onde vc disse "sempre digo que eventualmente me dou licença poética para amar personagens que eu jamais me relacionaria na vida real."), medo de ter raiva porque eu odeiooo homens assim. Então, eu ainda não decidi se leio ou não. Não sei se eu conseguiria terminar o livro onde o personagem tem essas características que vc descreveu.

    Agora, dela eu gostei =)

    Quem sabe, quem sabe. A percepção da gente em matéria de leitura vai mudando com o tempo né?

    Ótima resenha *beijos beijos*

    http://arabesqueando.blogspot.com.br/

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  2. Ah, Bréir, Gabo está acima do bem e do mal, sabe.
    Esse nipe de personagem que eu não gostaria de pegar na vida real e só o Florentino Ariza jovem. O velho comedor eu pegava (e olha que nem curto velhos).
    Gabriel García Márquez tem uma prosa impressionante!
    Eu queria saber explicar, mas eu entendo que é como algo que foi escrito para ser lido em voz alta para todos ouvirem. Porque é prosa, mas é poesia. Porque é gozação com a cara, mas é o mais doce e puro amor. Esse homem, amg, ele não era desse mundo.
    Espero que tu leia algo dele em breve. Já li outras obras igualmente fodas em seus enredos mas "O amor nos tempos do cólera" é meu livro favorito dele (e nem me pergunte como conseguir favoritar um livro desse homi porque também não sei).

    Obrigada pelo comentário e anote no caderninho esse homi. Ele merece (e tu também) <3

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