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29/01/2014

[Manias de Leitor] Sobre Indicar Livros

Estive ouvindo um podcast interessantíssimo sobre a importância da literatura na escola e o papel dos professores na formação de um leitor e seu caráter como tal. Fiquei pensando na importância que cada um de nós, leitores e apaixonados, temos de contaminar esse mundo, infestado de tecnologia cada vez mais sedutoras, com um pouco do prazer por ler e conhecer novas histórias. Essa é uma responsabilidade que cada um deveria assumir pra si e levar adiante, e acredito que a melhor forma de ser feito é através das Indicações. Mas aí surgem uma série de problemáticas, vamos ver se podemos elucidar e encontrar soluções para algumas delas?

1 – Não sei indicar, tenho medo de errar e a pessoa detestar mais ainda livros.

resolvendo problema

Vamos resolver esse problema. Indicar um livro é como dar um presente de aniversário, você precisa conhecer minimamente o que aquela pessoa gosta para que o presente que você dê não vire acumulador de poeira em algum lugar da casa. Temos acesso amplo, vasto, quase ilimitado, a qualquer tipo de livro, com temáticas variadas para agradar a todos os tipos de leitores que existir. Cada criatura tem seus gostos pra tudo, inclusive literário, só nos resta respeitar isso e indicar o que achamos que mais combina com ele, lembrando de suas predisposições e faixa etária.


2 – Vergonha (por motivos variados).

Sem vergonha

Uma das características mais comumente atribuídas aos leitores é sua introspecção e perfil antisocial. Seja porque prefere estar no mundo que o autor do livro criou ao mundo real, ou porque realmente não goste de viver em rodas de bates papos. Mas também é famosa a máxima que é só se reunir dois ou três leitores vorazes como nós que a tagarelice abre as portas e parece mais um galinheiro do que um grupo de pessoas conversando. Então a dica é, na medida do possível para a sua realidade, chame pessoas mais propensas para reuniões sobre livro, crie uma pauta, torne o encontro mais interessante associando a lugares legais para um bate papo (cafés, praças, shopping) e à comida (porque na dúvida, o futuro leitor se esconderá atras de um sanduíche).
Aqui no nosso querido estado temos o Pa Book Club, e as pequenas criaturas maravilhosas que o frequentam tem o gosto mais diverso possível e mesmo assim dá certo (sem contar com o aumento gritante na lista de desejados a cada encontro).

3 – Seja exemplo.

Livro e menina
Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida.
Se for pra semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e amizade.
Cora Coralina

Não exite em andar por aí com seu livro à mostra para que todos vejam, não ligue para rótulos (quem quiser falar mal de você vai fazê-lo mesmo que você não dê motivos, por isso escolha dar um bom motivo à eles). Com certeza terá alguém que irá perguntar o porquê de você ler tanto – olha aí a oportunidade pra horas de monólogo ou um simples e entusiasmado “porque é foda” – ou pedir pra olhar a capa do livro que você carrega. Nesse momento você indica esse ou outro livro, ou até mesmo ~num ato de amor ao próximo e desprendimento supremo~ empresta o livro. Pronto, a semente foi plantada e se o solo for bom irá vingar.

4 – Não quero incomodar ninguém e nem coagir meu colega a ler algo que não tenha interesse.

Sêneca

Se você não falar sobre o que você gosta ninguém vai adivinhar. Não há fórmula fechada. E as tentações do mundo são tantas que é muito provável que as pessoas ao seu redor não gostem de ler mais por ignorância desse ato do que por não sentir vontade realmente. Muitas pessoas nunca foram estimuladas à ler, pense nisso. Quantas vezes não escutei “acho bonito você ler tanto, mas não conseguiria pegar um livro assim tão grande e com letras tão pequenas”. Isso nada mais é do que medo do desconhecido, aliado à preguiça. Comecem pelos quadrinhos, mangá e seus derivados então, há tantos e com tanta qualidade disponíveis hoje. O importante é o ponto de partida ser prazeroso.
Se a pessoa que você vai indicar é mais nova, como irmão ou sobrinho, faça uma pesquisa rápida sobre o que tá na moda (já é um ponto positivo pela possibilidade de ser comentado na escola/faculdade ou já ter filmes sobre o livro em questão), sem esquecer de adequar o gênero e faixa etária.
Acredito que os clássicos serão referência sempre e algo a ser revisitado para conhecimento de uma época, mas não tem como esperar despertar interesse em alguém pela leitura indicando um livro escrito há mais de 100 anos, com linguagem e costumes tão diferentes do que é vivenciado hoje, sejamos coerentes. Li Dom Casmurro recentemente e AMEI, mas minha tentativa de ler Machado de Assim no começo da adolescência foi catastrófica, e sei que isso não aconteceu só comigo. É necessário maturidade (seja literária ou pessoal) para apreciar algumas obras, e respeitar isso é a certeza de acertar na escolha da indicação.


Essas são algumas dicas e também pequenas conclusões que cheguei ao me deparar com toda a minha vida como leitora e perceber que contaminei muito menos pessoas do que gostaria – e deveria – com esse prazer que é sentar e pegar um bom livro, e me deixar levar até onde as palavras de outra pessoa quiser. Isso é triste porque acredito que a pessoa que lê está sim um passo a frente em diversas faculdades importantes na vida hoje, seja ela em compreender o outro, ter retórica, encontrar saída mais fáceis/divertidas/coerentes para problemas, conhecer mais do mundo e da história, ou apenas tem um lazer sadio somente. E isso basta.


Um comentário:

  1. Oiee,
    Lilian, eu sempre tive esse receio de recomendar livros, até porque gosto é complicado.
    Mas da forma como você colocou no post já me fez mudar de idéia.
    Me identifiquei muito com o que você escreveu!!!
    Bjs. =D

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