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25/04/2014

Descanse em Paz, Meu Amor... (Pedro Bandeira)

Pois bem...
Sempre ouvi falar sobre Pedro Bandeira mas nunca tinha lido nada dele (não que eu me lembre), e antes que me apedrejem... antes tarde do que nunca né?
Descanse em Paz, Meu Amor... foi um dos livros comentados no podcast Cabulosocast ( nº 77 - Nosso Top 5) e despertou bastante meu interesse.

Nessa narrativa de Bandeira, sete amigos estão presos em um casarão velho no meio das montanhas, a ideia inicial dos jovens era passar as férias com muita aventura, escalando montanhas e afins... mas as chuvas intensas e imprevistas obrigaram os sete a se manterem refugiados no casebre alugado. Sem energia elétrica, e sem qualquer possibilidade de comunicação com o resto do mundo, os amigos estão cada vez mais aterrorizados e abatidos. 
O pesar e o medo imperam no casebre e nas mentes de Geraldo, Ludmila. Débora, Paulinho, Sílvio e Márcia... somente Alexandre parece não se abalar com a situação crítica de todos e tenta animá-los a todo custo. Sem saída às investidas de Alexandre, os amigos resolvem, cada um, contar histórias de terror. 
Apesar da temática terror, a histórias narradas pelos personagens não chegam a assustar, mas são interessantes e prendem a atenção do leitor e, algumas, possuem sim uma liçãozinha de moral. O grande quê do livro se concentra no personagem Alexandre e seu comportamento completamente destoante dos demais amigos, durante boa parte esse personagem não fez sentido pra mim, pareceu-me uma peça de quebra-cabeças encaixada no lugar errado. Mas, como era de se esperar (Pedro Bandeira não iria me decepcionar e não decepcionou) tudo fez sentido ao final da leitura, o quebra-cabeças foi concluído com sucesso!

Os livros de Bandeira são voltados para o público infanto-juvenil, a escrita é beeeeeeeeem fácil e fluida, mas não boba. É uma excelente forma de iniciar adolescentes e jovens no mundo da leitura. A maioria dos livros (pelo que pesquisei), são curtos então não tem aquela justificativa de "mimimi tenho preguiça de ler mimimi". A edição de Descanse em Paz, Meu Amor (Editora Ática) é muito bonita, as folhas são daquelas amarelinhas (que não cansa a vista) e o papel é grosso e tem algumas ilustrações. É um pouco (muito) caro, mas pela leitura, qualidade da edição e pelo prestígio do Bandeira... vale à pena!


Gostei bastante do trabalho do Bandeira e já corri para a série Os Karas, estou no primeiro livro (A Droga da Obediência) e, assim que tiver concluído todos, pretendo trazer Miguel, Calú, Crânio, Magrí e Chumbinho para o blog :)

Enfim... Descanse em Paz, Meu Amor... está mais do que recomendado!

Abraços e até a próxima ^^


19/04/2014

[Manias de Leitor] Spoilers, por que tão lindos?

Este post é totalmente pessoal. Sei que este é um assunto polêmico mas tudo que está aqui é o meu ponto de vista sobre o assunto. Esclarecido isso, vamos lá!
Nem te conto: AMO SPOILERS! 
Devo estar sendo chamada de louca varrida, sem noção ou expressões do gênero neste exato momento pelos queridíssimos leitores. Mas, mas... AMO SPOILERS! 

YAY
Quem me conhece sabe que spoiler é um caso sério na minha vida. 
"OMG, SÉRIO?! KD MEU LIVRO, KD?!"
"Por que? POR QUE??? ESTRAGA TODA A HISTÓRIA!
Sério? Vocês realmente acham que estragam a história saber algum doce spoiler? 
Eu sei que isso é completamente subjetivo mas, no meu caso, spoiler apenas me estimula a comer o livro! 
Eu fico ensandecida para saber e, quando sei, quero saber mais ainda!!! 


Vamos ser sinceros aqui: saber o rumo do livro não me faz saber o que vai levar a narrativa, ou o personagem, a tomar tal rumo. E se me contarem "todos os detalhes", ainda assim, não vai me fazer perder a emoção de eu mesma estar passando pela situação (no caso, lendo), porque as pessoas vão me dar as perspectivas delas. Não serão os meus sentimentos, o meu ponto de vista! A questão subjetiva, lembram? 
É fácil de entender quando constatamos que livros que amamos são odiados por algumas pessoas. 
Um livro é único para cada pessoa porque cada um encara a história baseada em sua perspectiva de vida. 
Juro que não consigo compreender quem larga o livro por ficar sabendo de alguma coisa que, em tese, não poderia saber antes da hora. (Mimimi sou viadinho mimimi) 
QUERIDINHOS, JÁ CANSEI DE IR LÁ NO ULTIMO CAPÍTULO PARA DAR UMA OLHADINHA PARA EVITAR UM INFARTO FULMINANTE DO CORAÇÃO! 
Me digam, não dói? Que tipo de masoquismo é este que, se o teu personagem favorito vai morrer, tu quer acompanhar passo a passo??? TU TEM UM PROBLEMA MUITO SÉRIO, AMIGO. É QUASE UM PSICOPATISMO! 
Quando sei que alguém vai morrer no livro já tento me preparar psicologicamente! E mais, já vou analisando as reais intenções dos autor. Consigo compreender melhor o que ele quer me passar. Aí posso julgar com um "ISSO NÃO TEM NEXO!" ou um "QUE AUTOR MALDITO! MAS ISSO FOI NECESSÁRIO!" e panz. 
Estou fazendo sentido? 
Não? 
Ok. 

*Comemoração por spoilers bons* 
O fato é que quanto mais informações eu sei do livro, mais ele me interessa. 
Spoiler funciona como um estimulante para mim. É imbatível. 
"E se tu souber de um final que não te agrada?" Já aconteceu. E nunca deixei de ler o livro por causa disso. Já abandonei livros por não ter rolado o clima entre nós, mas nunca por spoiler. 
A história é bem mais do que os fatos. Envolve sentimentos meus, como leitora, e a motivação dos personagens, o que leva às reais intenções do autor. 
(E de acordo este estudo não sou doente.) 

Agora uma conversa muito séria sobre a disponibilização dos spoilers: 
Respeito muito quem não gosta. Eu não conto se não quiserem saber. Respeito é fundamental nessas horas. Mas, tipo assim, SE EU QUERO SABER, ME CONTA! Não se nega spoiler a quem está pedindo. É uma das maiores maldades do mundo!
 "Ah, mas eu não faço porque não quero que façam comigo." A sua empatia é admirável, amigo. Mas podes colocá-la em prática em outros horários propícios (tipo na hora de furar a fila do RU). Se estou pedindo, eu quero saber e assumo toda e qualquer responsabilidade. Não é como se eu estive pedindo para me bater ou algo do tipo. 

Já sofri MUITO com livros que não tive como conseguir spoiler. Dentre alguns tensos: "Contos de Meigan" e "Tocada pelas sombras" me deixaram no chão frio e amargurado da dor, mas dei um sr. piti antes. Lágrimas, gritos (quem me conhece sabe que grito de verdade. Meus pais nem se assustam mais) ofensa aos autores, mais lágrimas, ameaças no twitter e coisas do gênero. Foi terrível. Eu realmente não estava preparada para finais assim e seria ótimo saber o que me aguardava. Enfim,  não vou mais chorar pelo spoiler poupado. 
Claro que não sei o que me espera em todos os livros que leio mas, às vezes, é uma dor que eu realmente evitaria se pudesse. 

E vocês, o que acham de spoilers? Acham que acaba o tesão ou concordam comigo? 
PS: O assunto tratado foi sobre livros mas não tenho problema nenhum com spoilers de filmes e séries. 
(Me tratem com carinho nos comentários, hein!)
P.S.: Para concluir, vou dar um spoiler sobre a vida: TODOS MORREM NO FINAL! 
 *Tchau de miss* 



04/04/2014

[Curtas] HP Lovecraft

"Ph'nglui mglw' nafh Cthulhu R'lyeh wgah' nagl fhtagn"
Em sua morada em R'lyeh, o extinto Cthulhu aguarda sonhando.


Pois bem,
Recentemente tive meu primeiro contato com a literatura de Howard Phillips Lovecraft (ou HP Lovecraft para a maioria, ou HP LoveRcraft para o Eduardo Sphor) através da seleção de contos "Histórias de Horror - O mito do Cthulhu" (editora Martin Claret), que reúne as seguintes histórias: O Chamado do Cthulhu, O horror de Dunwich, Sussurros na escuridão, O assombrador das trevas.
Lovecraft é um autor muito conhecido e citado em vários blogs, podcasts literários, além de ser referência para várias outras literaturas e modalidades artísticas; sempre ouvi o nome dele mas só esse ano me interessei em saber sobre o que ele escrevia e, confesso, fiquei pé atrás quando soube que suas histórias são voltadas para terror/horror (porque eu sou medrosa mesmo). A seleção de contos foi uma ótima forma para embarcar no universo de Lovecraft e, sim, despertou meu interesse em relação às outras obras dele, em especial o tão comentado "Nas Montanhas da Loucura".

O que mais achei interessante nos contos de Lovecraft, é a forma como ele aborda o horror. Primeiro que o narrador, nos quatro contos, é sempre uma pessoa da comunidade letrada, científica... que apresenta a sequência de fatos em forma de relato e numa linguagem formal. Em relação às terríveis criaturas (que não são deste planeta, provavelmente já estavam aqui antes de existirem os primeiros seres humanos, mas estão montando terreno para se reerguer e contam com mensageiros entre os homens), não somos exatamente apresentados a elas, mas ao horror extremo que elas despertam com simples sons e pegadas, ou através dos sinistros rituais de adoração a Cthulhu. O cheiro, o som, o medo... é tudo muito bem descrito e permite ao leitor embarcar no universo ao ponto "enxergar" essas tão temíveis criaturas que não chegam a ser totalmente definidas por Lovecraft, podemos imaginar o inimaginável e inominável. 

Não diria que é um tipo de leitura que agradaria a todos, mas acredito ser válido tentar um contato, mesmo que breve, com a literatura de Lovecraft como uma espécie de "homenagem" àquele que inspirou grande parte do horro e ficção científica que temos hoje, seja em livros, filmes, jogos e afins.


Desculpem o post humilde pessoal, sou "caloura" no universo Lovecraft e achei melhor não me aprofundar no assunto. No mais, recomendo a leitura do livro e também recomendo ouvir o Nerdcast 312 - O universo inominável de HP Lovecraft (que me ajudou a tirar várias dúvidas rsrs).

Abraços e até a próxima!


01/04/2014

O Amor nos Tempos do Cólera (Gabriel García Márquez)

"Florentino Ariza não deixara de pensar nela um único estante desde que Fermina Daza o rechaçou sem apelação depois de uns amores longos e contrariados, e haviam transcorrido a partir de então cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias."
"O amor nos tempos do cólera" é um livro grandioso. Saindo de mim, pode até soar exagerado mas... não. 
O autor, Gabriel García Márquez, ou Gabo para os íntimos (eu), foi vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982 e isso não foi aleatório, amigos. 
O livro em questão foi lançado em 1985 e conhecemos a história de amor e solidão de Florentino Ariza pela singular Fermina Daza; um amor obstinado que espera mais de meio século para se tornar possível.
Um amor de cartas, corações partidos, lágrimas e serenatas que despertou em mim algo indescritível. 
Mais que uma história de amor, o livro narra as histórias dos amores que surgiram por causa de um amor infeliz; alguns fatos tão fugazes, outros tão intempestivos... essa linha atemporal que o autor nos joga mexe com os sentidos e, sobretudo, com os sentimentos.

A narrativa é em terceira pessoa e várias perspectivas nos são apresentadas, o que é interessante pois conhecemos os personagens intimamente e nos deparamos com os ~erros~ das perspectivas de outros personagens. 
O melhor exemplo é Fermina Daza. Ela é idealizada por Florentino Ariza; sua "deusa coroada" sem erros, nem mácula. Porém, ao leitor é apresentado uma Fermina humana, palpável. 
A passagem do tempo do livro nos inspira muito também. A maturidade faz bem à Florentino Ariza. Sua percepção de mundo com relação aos amores amplia os horizontes e o deixa mais compreensível e tolerável. 

"O coração tem mais quartos que uma pensão de putas...", de fato, Florentino. De fato.

Gabriel García Márquez é conhecido como o percursor do Realismo Fantástico. Ele inclui elementos de lendas e os torna possíveis em seus histórias. Em "O amor nos tempos do cólera" o imaginário dos personagens é cheio de superstição, mas claro que também há os que sempre tem uma resposta racional para os questionamentos. Na verdade, temos os dois extremos bem representados no livro.  
É fabuloso como os personagens, e seus sentimentos, são reais. Florentino Ariza inicia um tolo passional. Ele se apaixonou por Fermina Daza desde a primeira vez que a viu, e a partir dessa primeira troca de olhares sua vida seria vivida em função dela.
Fermina Daza também se deixa encantar pelos arrombos das paixões juvenis, mas ao contrário de Florentino Ariza, sua ilusão passou.  


"... ao contrário daquela vez não sentiu agora a comoção do amor e sim o abismo do desencanto. Num instante teve a revelação completa da magnitude do próprio engano, e perguntou a si mesma, aterrada, como tinha podido incubar durante tanto tempo e com tanta ferocidade semelhante quimera no coração."


Fermina Daza segue em frente. Casa com Juvenal Urbino e vive os altos e baixos do casamento. Enquanto Florentino Ariza vira o comedor oficial da cidade; um comedor muito discreto, porém. 
Dentre personagens tão diferentes vemos fragmentos de pessoas muito reais. 
Sempre digo que eventualmente me dou licença poética para amar personagens que eu jamais me relacionaria na vida real. E Florentino Ariza se enquadra, com certeza. Inicialmente, seu romantismo exacerbado é... irritante? Bem, claro que depende do ponto de vista do leitor e sou bem Fermina Daza nesse aspecto. (RÁ!)
Fragilidade, fúria, sinceridade, frieza... a percepção honesta dos personagens está aberta na narrativa,  mas a humanidade escancarada de Fermina Daza em particular me encanta. Eu faria tudo que ela fez.


Inclusive isso

Sobre o desespero amoroso de Florentino Ariza: pode parecer meio doentio (ok, é completamente doentio), mas por que é tão bonito e aceitável? O universo que Gabriel García Márquez criou inspira aceitação. 
Não pensem que a história é água com açúcar ou coisa parecida. A prosa de Gabo é apaixonante sim, mas também (deliciosamente) dolorosa e com forte cunho realista. O autor nos presenteia uma história crua sobre personagens que sentem demais. É incrível a distância que o narrador mantém de seus relatos e é incrível a maneira que ele expõem o amor e a dor de maneiras tão ARGH!

"Mas o exame revelou que não tinha febre, nem dor em nenhuma parte, e a única coisa que sentia de concreto era uma necessidade urgente de morrer. Bastou ao médico um interrogatório insidioso, primeiro a ele e depois à mãe para comprovar uma vez mais que os sintomas de amor são os mesmos do cólera."
"O amor nos tempos do cólera" tem um enredo fantástico (adjetivo) e a prosa poética de Gabo acrescenta um ar de fascinação. É meio difícil de explicar a sensação mas, acreditem, é maravilhosa. 

Este foi o primeiro livro que li do autor e fiquei em êxtase e... juro, ainda não passou.

Adendo: Quero que vocês tenham em mente que tudo que eu escrever aqui não será o suficiente para expor dignamente este livro. Então, desde já, desculpem.